segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Já faz um ano.

Meu limite era os 18.
A vida teria que mudar
- eu também -
Tudo seria diferente.
A minha casa,
A minha solidão,
Os meus livros,
O meu tempo.

O meu limite era os 18.
Tudo seria diferente.
Eu seria madura,
Independente,
Auto-suficiente.

O meu limite seria os 18.
Eu viveria sozinha
Numa casa de poucas paredes
E muitas janelas.
Passaria meus dias sozinha, lendo.
Sairia de vez enquando com a cachorra,
Iria a padaria tomar café.
A janta seria apenas um lanche,
Um sanduiche feito na frigideira
E um leite gelado.

O meu limite ultrapassou os 18.
E o que construí?
E o que fiz eu para marcar meus 18?
E o que em mim mudou?
O que, concretamente, eu fiz?
Que jogo eu ganhei?

Aos 19 eu sou quase a mesma.
Um pouco mais mediocre
- ainda bem, porque viver na profundidade o tempo todo dói demais -
E o que mais?
Um pouco mais sorridente.
Só.
Isso já é muito, eu sei,
Para uma menina como eu
E isso mudou quando ouvi a música do Chico que dizia de mim
"A moça triste que vivia calada sorriu".

Tirando isso.
O que fiz?
Continuo comentendo os mesmos erros,
Falando as mesmas frases prontas
E vivendo debaixo do mesmo teto.

Continuo sendo um peso para a minha mãe,
Uma alguém que só faz gastar dinheiro,
Uma alguém que não tras retorno para ninguém.

Tudo que fiz até agora que poderia me orgulhar
Não passou da minha obrigação.

CR 9,6 não passa da obrigação
Passar em 2 vestibulares não passa da obrigação
Ser fiel e honesta, deixar o celular sempre ligado e avisar que vou chegar tarde não passa da [obrigação
Ser convidada por 3 professores para fazer IC com eles não passa da obrigação.
Dormir 5h por dia para ter tempo de fazer tudo não passa da obrigação de uma jovem de 19.
Não se drogar, não passa da obrigação de alguém que teve uma mãe que fez de tudo para me [criar bem
Tudo que eu faço não passa da obrigação.

Então, quais os méritos que eu levo?
Nenhum.
Eu sigo a cartilha a risca
E isso não faz mais do que minha obrigação.

Mas, então, o que fiz que não passasse da minha obrigação?
Fiz birra,
Fui inútil o tempo todo,
Fui um peso a todo momento para aquelas que depositavam esperanças em mim.

Minha mãe disse,
E com razão,
Que queria ser ela.
Que queria ter dinheiro para ela
Que queria ter a vida dela
Que queria que eu fosse mais compreensiva,
Mais estudiosa,
E me compara com as pessoas que eu menos queria ser comparada.

Então,
O que eu,
Sozinha,
construí?

Um profundo nada.

E o que vou construir?
Pode ser que um nada,
Pode ser que muita coisa.
Mas a impressão que eu tenho é que já era para ter começado.

O fato é que tudo foi me dado de mão beijada
E me acomodei.
Talvez eu continue acomodada.
Para sempre.

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