terça-feira, junho 27, 2006

Eu me iludo
Eu me iludo de mais

Tem coisas que nunca mudam
Eu nunca mudo.
Aprendi isso.

Eu quero ser sozinha
Eu quero me afundar num sono profundo
E nunca mais acordar

Eu cansei
Cansei de achar que as coisas mudaram
Que as pessoas mudaram
Que eu mudei

Mudam as faces,
Mas a essencia é a mesma.

Eu sou a mesma
As pessoas sao as mesmas
- mesmo que com outro nome, cep ou identidade.

Sao sempre as mesmas pessoas
as mesmas criticas
as mesmas mentiras
as mesmas ilusoes
os mesmos passos
os mesmos golpes

Sao sempre as pessoas
Todas as pessoas.

segunda-feira, junho 26, 2006

Tempos

Me pergunte o que quiser:
meu nome,
minha idade,
meu CEP,
nome da minha cachorra,
o meu cd predileto,
o meu livro de poesia favorito

Me pergunte qualquer coisa
E eu te responderei

Mas não me pergunte o que quero da vida
Porque eu nao tenho um respostas

Eu as tinha
Mas perdi.

Nao há uma resposta
Que diga o que quero da vida.

Eu quero um tempo.
Um tempo para pensar
E responder.

E nem mesmo posso te dizer quanto tempo é esse tempo
É um tempo.
Pode ser 1 dia
Ou 1 mes
Ou a minha vida inteira.

Eu nao sei o quero da vida.

Eu queria re-começar algumas amizades,
Re-fazer alguns atos
Re-montar algumas cenas.

Mas tudo isso é passado
Que tento
- em vão -
re-tomar no presente.

Para o futuro nao sei.
Nao sei.

Nao sei se verás um livro meu
Nas prateleiras da sessão de educação numa livraria
De uma ruela dessas do centro da cidade;
Ou se nunca mais ouvirá falar de mim

Nao sei.
Passei parte da minha vida tendo muitas respostas

Hoje tenho muitas perguntas.

domingo, junho 25, 2006

A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo, assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi:
Faz já tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se.
Para outra vida?
A vida é uma só.
A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

sexta-feira, junho 23, 2006

Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar

Eu tô na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Eu tô na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar


A letra é linda,
Mas o sentimento nao.

Who cares?!

terça-feira, junho 20, 2006

Dos que fazem da vida uma poesia

Difícil tarefa essa a do poeta
De transfora a dor em poesia.

Eu, por exemplo,
Sabes se estou a rir ou a chorar?
Enxergas minha face e meus contornos?

Você, que me lê, tem ideia de como me sinto agora?

Sinto-me perdida,
Desolada
Sinto-me uma das piores

Consegue sentir o mesmo quando me lê?
Sabes da minha vida,
dos meus amores,
desamores,
frustrações e encantos?

No entando eu escrevo
E em versos
E corto as frases
Para que você leia como se ouvisse uma musica.

Achou que foi por acaso?
Pois é por isso que falo
Difícil tarefa essa do poema
De transformar a dor,
a solidão
Em versos ritmados.

Bem sei que os meus não possuem rimas
Bem sei que meus versos sofrem cortes esdrúxulos.

Porque eu não tenho rima
Sou um verso ímpar
E esdrúxulo

domingo, junho 18, 2006

Dos que fazem falta

Difícil tarefa de viver sem pensar
Naqueles que foram importantes em nossas vidas
E de uma maneira, ou outra, se foram.

Difícil tarefa de saber que muitos que se foram
Se foram por minha culpa

Difícil tarefa de ver que meu temperamento beira a insuportabilidade,
De que meu humor beira o non-sense
Que minha exigencia em minhas amizades é alta demais,
Que talvez algumas amizades sao construídas de uma unica pessoa - eu.

Difícil tarefa de agir certo
E desfazer o errado

Difícil tarefa de ser eu,
De me aceitar.

Dificil tarefa de gostar de mim
E me completar.

Dificil é mesmo viver assim
Por nao saber ser de outra maneira
E nao aceitar a sua propria maneira.

E na verdade o que me falta sou eu
É meu bom sendo
É meu amor próprio.

Mas eu sempre culpo os outros.
Sempre os outros.

Porque culpar a mim mesma eu cansei.

sábado, junho 17, 2006

TPM

Eu nunca tive.
Aliás, eu nunca tinha tido
Mas de uns tempos para cá venho me supreendendo
Sim, agora eu tenho tpm.

Finalmente, me senti mulher de verdade - todas tinha tpm, menos eu!
Pronto, senti até meu corpo diferente, senti-me mulher e nao apenas uma menina-moça.
Mulher mesmo, mulherão.

Um mês,
Dois meses
Três meses.

Essa tal de tpm começou a me irritar.
Deprês profundas,
Estresse agudo,
Ansiedade mais ansiosa que o normal,
Brigas em casa
Mau-humor...

Pensei: vou ao médico e, quem sabe, nao tomo um remédio?
Refleti...
Nao, melhor nao.

A tpm já nao me faz mais me sentir mulherão,
Mas quebra um galho.
Agora eu posso gritar,
Posso chorar,
Posso me isolar,
Posso esperniar
E melhor de tudo:
Colocar a culpa na tpm.

Pronto. Perfeito.
Já pedi alta da terapia,
Parei de fazer yoga,
E até joguei os anti-depressivos fora.

Para que tudo isso?

A tpm é maior mão na roda!

quarta-feira, junho 07, 2006

Nada poético

Apresentamo-nos

Seu nome era bonito
O meu eu nunca gostei.

Me contou da sua vida,
Seus amores,
Seus gostos
E seus desejos.

Contei dos meus cds na prateleira
Dos livros que parei pela metade
Das revistas nunca lidas

Ele falava sobre suas viagens
E eu das minhas ídas ao mercado

Ele enumerava suas qualidades
Eu escondia meus defeitos

Ele era de outro mundo
E não dava para entrar no meu.

Meu mundo é de gente que vai ao mercado,
De gente que compra jornal com aquele jornaleiro da esquina
De gente que chora sem vergonha
De gente que atrasa as contas para pagar

O mundo dele era dos poetas
O meu dos cansados

O mundo dele era a epopéia
O meu o cotidiano.

Despedimo-nos.

Ele foi para dentro do livro
E eu para casa

domingo, junho 04, 2006

As vezes os que estão ao nosso lado
Nao sao como mostram ser.
Eu sinto falta de algumas pessoas
E de algumas amizades
Mas as vezes é preciso dar um basta.
Porque alimentar uma falsa-amizade
É enganar a si mesma
A saudade é grande
A vontade de voltar aos velhos tempos é maior ainda

Mas com a saudade a gente aprende a viver
E a nostalgia é algo que sempre estará entre nós
Porque somos seres que constroem o passado
Vivem pouco o presente
E esperam demais do futuro.

*em homenagem aqueles que nao estão mais por perto e que me fazem falta*