domingo, junho 25, 2006

A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo, assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi:
Faz já tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se.
Para outra vida?
A vida é uma só.
A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou FRACTAL e hoje nos falamos...gostei de ti...agora vejo a poeta a minha frente: nua, exangüe e exposta!
Nossa como vc é bonita!
Em breve, muito breve creio que reestarei de novo em sua vida e vc na minha....
Bjos amiga!!!