terça-feira, outubro 31, 2006

De alguma margem de algum rio que apelidou-se de Pedagogia


Há muito tempo tenho a vontade de escrever sobre esse tema.
De frente ao meu computador, nessa pequena tela, me proponho a fazer isso.
Mas nada é certo de que se faça aqui algum rascunho sobre esse tema.
Eu apenas tenho o propósito. E nós, gente grande, sabemos que propósitos são apenas inicios, nunca meios, muito menos fim - bom seria se fosse.
Do escolher ser alguma coisa quando crescer
A criança nasce e não escolhe crescer. Acontece.
Freud diz que isso se faz por meio de um luto.
Sim.
Crescimento exige alguns lutos.
Luto da infância é o principal.
Saindo vivo dele - alguns socumbem, eu sobrevivi, entre trancos e barrancos - já está feita uma escolha, a do viver - que anda com com o crescer, penso.
Por volta dos 16, o ser, sobrevivente, tem que escolher o que vai ser quando crescer.
Quando ele pode escolher tá é bom, por que fato é que a vida, em alguns casos, se impoe sobre essa ser deplorável chamado adolescente.
A mãe quer que seja advogado. O avó, médico. O pai, quando esse existe e é realmente presente, quer que ele seja engenheiro.
Pronto.
Está dado o futuro dessa criatura que não sabe nem quem é, mas tem que saber o que vai ser.
Que contadição essa, não?
Bom, bom, enfim, a sociedade vê isso como percuso natural das coisas e assim ficou determinado.
Há os jovens que, não por serem fracos, mas por não terem idéia do que são, acatam uma das 3 decisões. Há aqueles que decidem tomar seus próprios caminhos, que as vezes coincidem com os 3 postulados, as vezes não.
Da minha escolha
Eu sou uma dessas sobreviventes que escolhem o próprio caminho.
Desde meus 14, eu lia bastante sobre o campo da educação, na pragmático, mas já mostrava meu tesão pela área.
Aos 17, não havia duvida: pedagogia.
Pronto.
O avó já havia morrido, assim como o pai. A mãe, carregando o pesado fardo de substituir essas duas "autoridades" cobrou seu querer em triplo.
Só deus sabe o quanto foi pesado, tanto para ela, quanto para mim.
Nada entrava na cabeça da minha mãe que eu queria mesmo pedagogia. "Eu não sabia o que tava querendo", dizia ela.
As madrugadas - todas elas - eram terrivelmente barulhenta ou dolorosamente silenciosas.
Eram sempre as mesmas, depois que o alcoolismo tomou conta de mim.
Era quase insoportável aguentar a vida sem o alcool.
Quase imaginável sobreviver sem, todas as noites, bastar todo meu dinheiro em cerveja e cigarro.
Fato era que, sem coragem para tomar um chumbinho, ou me jogar do 10º andar, eu sobrevivia por causa deles: cerveja e cigarro.
Foram dias, semanas, meses assim.
As sessões de tarapia triplicaram.
Minha mãe precisava de um acompanhamento especial.
Eu também.
E nós duas juntas, mais ainda.
Foi dolorosamente pesado.
Parecia inimaginável para aquela jornalista e funcionaria publica, que a filha fosse, futuramente, ganhar menos do que ela!
Chegou-se a um meio termo: ciências sociais.
O longo caminho entre o meio termo e o fim
Me empolguei com a idéia de fazer CS.
Estudei muito, muito embora o alcool me atrapalhasse um pouco.
Estudei como nunca havia estudado na minha vida.
Como nunca imagino estudar mais.
Mas de nada me adiantou, porque, mais uma vez, para minha mãe e para mim também, fracassei.
Só passei para pedagogia.
Para amenizar um pouco as coisas, passei em 11º.
Ah, esqueci de falar que passei para CS em 11º, também, na FGV, mas me recusei a cursar uma faculdade privada.
E, já não bastasse todo esse caminho, que, como puderam ver, não foi muito suave, tive que ouvir
"Não faz mais do que a obrigação. Tinha que ter passado para todas. Não sei porque não passou"
Acho que nunca eu chorei tanto sem esboçar um gesto sequer na face. As lagrimas, amargas, de amargura do meu próprio fracasso, caiam como as águas das cachoeiras que eu ia quando mais nova, em Lumiar.
Nunca, em toda minha vida, vi algo parecido: alguem chorar em esboçar um gesto, sem se curvar, sem abaixar a cabeça, sem enrubar a testa.
Nunca, nem em filmes.
De quem ja escolheu o que vai ser quando crescer (ou não)
Agora, no 2o semestre, vejo porque, talvez eu nao deveria ter escolhido pedagogia.
Talvez não.
Talvez eu nem tenha escolhido.
Fato é que estou lá dentro.
E isso tem me rendido muito.
Seja em discussão, seja em estudos, seja em coisas que nem sei o que são.
Se gosto?
Dias sim, dias não.
Haveriam muito mais coisas para serem ditas aqui.
Mas deixarei elas para um próximo post.
Os motivos são dois.
Começei a escrever por estar mesgulhado em um sentimento estranho,que mistrura estranheza e desprezo, com uma pitada de raiva. Mas também de esperança e boniteza.
Volto quando conseguir expor em palavras escritas tudo o que sinto.

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